Carta Aberta aos militantes do Bloco de Esquerda
Pela construção de uma moção
Camarada,
Um grupo de militantes, preocupado com a linha política do Bloco de Esquerda nos últimos anos, apresentou, na Conferência Nacional realizada no Porto a 26 e 27 de Outubro, um documento intitulado"Salvar o Bloco da Dissolução Política"que pretendia um novo rumo para o Bloco, uma alternativa de esquerda pela construção do socialismo.
Este documento não foi aprovado. A Mesa Nacional de 8 de dezembro de 2024 ratificou o documento aprovado na Conferência Nacional, dando continuidade às políticas definidas. Prossegue-se o caminho que tem acompanhado o Bloco em sucessivas derrotas eleitorais desde 2019, que corresponde a uma perda de influência na sociedade e a sinais de desmobilização interna.
Afirma-se que estamos num momento de refluxo e de crise da esquerda e
que nos devemos limitar a resistir. Contudo, mais necessário se torna
agora ter políticas que, ligando as reivindicações imediatas à luta
global pelo socialismo, combatam a extrema-direita, o neoliberalismo e a
social-democracia.
Temos como objetivo continuar a construir proposta política dentro do Bloco de Esquerda. Cremos que tal é urgente, face ao curso atual do nosso partido, onde a discussão interna é cada vez mais escassa - cresce a burocratização e aumenta a desmobilização dos aderentes. Desenha-se um modelo monolítico e autoritário, em que qualquer voz alternativa é entendida como um empecilho, e que alimenta uma ação política dispersa por várias lutas sectoriais, sem coordenação de objetivos e estratégias, fazendo com que o Bloco se demita de ser uma alternativa global na sociedade. "A Luta Toda", o "Socialismo de Futuro" parecem chavões sem base política sólida nem respostas para as necessidades políticas do momento.
Manter o Bloco mais aberto ao debate interno, com maior respeito pela expressão de alternativas e do papel de cada militante, é o caminho para dar resposta às preocupações da maioria dos e das militantes.
A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, reunida a 8 de Dezembro, decidiu marcar a Convenção Nacional para os dias 31 de Maio e 1 de Junho de 2025. Neste contexto,é um imperativo apresentar uma moção alternativa à da maioria da atual direção. Nesse sentido, propusemos um mínimo de 40 militantes, no uso dos seus direitos, para apresentar uma moção à Convenção. A maioria da Mesa Nacional entendeu que seriam necessários 1% dos aderentes (104) para tal. Note-se que nas últimas eleições para coordenadoras concelhias e distritais a participação rondou os 10% dos aderentes, ou seja, o número mínimo exigido corresponde a 10% dos militantes ativos. Seguindo uma lógica semelhante no quadro das eleições nacionais, partidos com a dimensão do Bloco seriam excluídos da participação eleitoral.
Aproximando-se eleições autárquicas, o Bloco continua sem políticas
definidas, que façam da sua participação mais que um simples sucedâneo
da política nacional. A discussão interna parece limitada à
possibilidade de coligação com o PS, em Lisboa, ou com o Livre noutros
concelhos.
Nas eleições autárquicas há que discutir as cidades, os territórios e a sociedade que queremos, como garantir os direitos de acesso universal aos serviços públicos (saúde, educação, segurança social, cultura), como responder às questões urgentes: o ambiente, a mobilidade e os transportes, a habitação, a pobreza e a exclusão social, o apoio à cultura, a gestão autárquica participada, inclusiva e transparente. é mais uma ocasião para reforçar e construir estruturas locais do Bloco, ativas e presentes no diálogo com a sociedade.
Por tudo isto, apelamos a todos os e as militantes do Bloco de Esquerda que não se revejam na atual orientação política e nos modos de funcionamento, e queiram contribuir para a elaboração de uma moção para a Convenção, a entrarem em contacto connosco por intermédio do emailradarrededeativistas@gmail.com.
18 de dezembro de 2024
Subscrevem
Adelino Fortunato, Alexandra Vieira, António Cruz Mendes, António Gil Campos, António Marinho da Silva, Fernando Queirós, Heitor de Sousa, Helena Figueiredo, Jorge Pereira, José Manuel Boavida, José Peixoto, Luisa Santos, Maria José Vitorino, Nuno Pinheiro, Patrícia Barreira, Vitorino Pereira